sábado, 16 de outubro de 2010

POESIAS, VIAGENS E SORRISOS

Revigorada pela recente viagem à Ilha do Mel - no litoral do Paraná, e pelo bom momento que vivo, estou me sentindo feliz. Assim retomo o Blog e, neste bom momento de felicidade me lembrei de Vinícius de Moraes e de seu mais expressivo poema. Titubiei (nossa... que palavra antiga!) em postá-lo. Sei que muita gente já o conhece; mas, vai assim mesmo. Ele fala tanto e tão profundo, na alma feminina, que é sempre bom relembrá-lo.
SONETO DE FIDELIDADE

De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa dizer dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas seja infinito enquanto dure.
                                                                Claro... é dele:
                                                                                                                Vinícius de Moraes.
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Para continuar no clima, nada como a poesia da nossa eterna Cecília Meireles. Vale como homenagem ao Dia dos Professores, já que a poeta foi professora primária e universitária. E depois, quem não ama a poesia de Cecília?
MOTIVO
Eu canto
porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste
sou poeta.

Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.

Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou desfaço
-não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.

Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
-mais nada.
                                                                                          Cecília Meireles
                                                                                          In: Viagem - 1939.
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E... para fechar as postagens de hoje, deixo aqui, mais um poema do meu poeta de todas as horas: Zé Carlos Batalhafam. Criatura que descobri recentemente; mas, que tem me encantado e irá encantar muita gente.
 OLHOS D’ÁGUA

Derrama teu olhar sobre mim,
que aos poucos transbordarei
e, sendo enxurrada completa,
não vou parar de jorrar
feito fonte, feito rio,
feito o que me fizeste.

Torrencialmente,
derrama, sobre mim, esse teu olhar
para que eu possa chover sobre a cidade;
lavar ruas, poste, casas,
limpeza na atmosfera,
me entrega essas esferas,
derrama esse teu olhar.
                                                           Zé Carlos Batalhafam
                                               In: “Verdades & Mentiras” – 1987  
                   “Trilogia das Palavras” – 2007. 


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