Revigorada pela recente viagem à Ilha do Mel - no litoral do Paraná, e pelo bom momento que vivo, estou me sentindo feliz. Assim retomo o Blog e, neste bom momento de felicidade me lembrei de Vinícius de Moraes e de seu mais expressivo poema. Titubiei (nossa... que palavra antiga!) em postá-lo. Sei que muita gente já o conhece; mas, vai assim mesmo. Ele fala tanto e tão profundo, na alma feminina, que é sempre bom relembrá-lo.
SONETO DE FIDELIDADE
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa dizer dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas seja infinito enquanto dure.
Claro... é dele:
Vinícius de Moraes.
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Para continuar no clima, nada como a poesia da nossa eterna Cecília Meireles. Vale como homenagem ao Dia dos Professores, já que a poeta foi professora primária e universitária. E depois, quem não ama a poesia de Cecília?
MOTIVO
Eu canto
porque o instante existe
e a minha vida está completa.
Não sou alegre nem sou triste
sou poeta.
Irmão das coisas fugidias,
não sinto gozo nem tormento.
Atravesso noites e dias
no vento.
Se desmorono ou se edifico,
se permaneço ou desfaço
-não sei, não sei. Não sei se fico
ou passo.
Sei que canto. E a canção é tudo.
Tem sangue eterno a asa ritmada.
E um dia sei que estarei mudo:
-mais nada.
Cecília Meireles
In: Viagem - 1939.
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E... para fechar as postagens de hoje, deixo aqui, mais um poema do meu poeta de todas as horas: Zé Carlos Batalhafam. Criatura que descobri recentemente; mas, que tem me encantado e irá encantar muita gente.
OLHOS D’ÁGUA
Derrama teu olhar sobre mim,
que aos poucos transbordarei
e, sendo enxurrada completa,
não vou parar de jorrar
feito fonte, feito rio,
feito o que me fizeste.
Torrencialmente,
derrama, sobre mim, esse teu olhar
para que eu possa chover sobre a cidade;
lavar ruas, poste, casas,
limpeza na atmosfera,
me entrega essas esferas,
derrama esse teu olhar.
que aos poucos transbordarei
e, sendo enxurrada completa,
não vou parar de jorrar
feito fonte, feito rio,
feito o que me fizeste.
Torrencialmente,
derrama, sobre mim, esse teu olhar
para que eu possa chover sobre a cidade;
lavar ruas, poste, casas,
limpeza na atmosfera,
me entrega essas esferas,
derrama esse teu olhar.
Zé Carlos Batalhafam
In: “Verdades & Mentiras” – 1987
“Trilogia das Palavras” – 2007.
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